segunda-feira, 28 de maio de 2012

Spartacus: Blood and Sand e o Ultimate Fight Championship (UFC)

 
Em 2010, o canal norte-americano Starz lançou a série Spartacus: Blood and Sand que logo caiu nas graças do público e da crítica especializada, inclusive do Brasil, onde a série foi transmitida pelo canal FX. Porém, a série não pôde ter sua segunda temporada em 2011 devido a uma tragédia, o ator Andy Whitfield, que interpretava o papel de Spartacus, foi diagnosticado com câncer, vindo a falecer pouco tempo depois.
Com tudo, em janeiro passado, a segunda temporada (Spartacus: Vengeance) iniciou nos EUA, com Liam McIntyre assumindo o papel de Spartacus. A ideia é dar continuidade a série sem mudar o objetivo inicial, ou seja, contar a história, baseada em fatos reais, do mítico herói-escravo Spartacus, que liderou um exército de escravos contra as tropas romanas em 73 a.C.. Resistindo durante aproximadamente 2 anos às investidas imperiais, os rebeldes chegaram a somar mais de 100 mil integrantes, entretanto o fim foi trágico para os motinados.
A primeira temporada da série, Spartacus: Blood and Sand (Spartacus: Sangue e Areia) narra o período em que Spartacus esteve aprisionado no lúdus de Bastiatus, uma espécie de empresário de gladiadores. Neste local, Spartacus foi adestrado na arte do combate físico, sendo preparado para se transformar num gladiador.
A trama da série se desenvolve em torno das batalhas entre gladiadores e nas disputas políticas entre a alta elite de Cápua, cidade italiana onde a história acontece. A série culmina com a revolta de escravos liderada por Spartacus.
Blood and Sand mostra a relação de amor e idolatria que as lutas de gladiadores proporcionavam aos antigos romanos. E não eram somente as massas incultas que adoravam as lutas de gladiadores, pois a elite também se deleitava acompanhando os sangrentos combates. Na arena, escravos se tornavam celebridades apenas por seu desempenho em combate. Porém, raramente conseguiam a liberdade, pois não eram livres, pertenciam a um senhor, um lanista.
As lutas ocorriam atendendo a política do Circus Romanus, que as autoridades romanas sabiam exatamente para que servia: alienar as massas, dando-lhes uma distração capaz de tirar de suas cabeças toda e qualquer ideia de revolta contra o Império. Mas os dias do Circus não duraram muito tempo, pois foram proibidos quando o cristianismo, que pregava o amor ao próximo, tornou-se religião oficial do Império.
Hoje, a exemplo do que acontecia com os gladiadores da Roma Antiga que eram obrigados a lutar, no UFC, que é uma empresa particular que visa o lucro, os lutadores também têm seus direitos de exploração de imagem e do corpo pertencentes à empresa. Na verdade, o UFC é quem define contra quais lutadores seus funcionários (gladiadores) devem lutar.
No espetáculo estético e plástico proporcionado pelos UFCs, muito semelhantes aos do circo romano, não ocorrem ao acaso, atendem a uma crescente demanda de interesse popular pelos MMAs (Mixed Martial Arts ou Artes Marciais Combinadas). Igual ao que acontecia entre os antigos romanos.
Por tudo isso, o UFC se torna um esporte, se é que pode ser considerado um, anacrônico, ou seja, fora de seu tempo, pois já fora proibido até mesmo pelos cruéis bárbaros que invadiram o Império Romano, que viam nestas lutas, embates cruéis e desnecessários. Mesmo assim, o UFC reavive esses combates atendendo a uma demanda crescente de um voyeurismo passivo entre as grandes massas. Pessoas que preferem observar a vida alheia a viverem suas próprias vidas. Isso faz o UFC ser para o esporte aquilo que os que os reality shows são para a TV, ou seja, alienação vazia de conteúdo.
Portanto, se você gosta de luta de gladiadores, abandone os anacrônicos e alienantes UFCs e assista Spartacus: Blood and Sand, que, gostando ou não, ao menos está dentro do contexto histórico correto.

Marcos Faber
www.historialivre.com