terça-feira, 25 de junho de 2013

V for Vendeta de Alan Moore e o dia seguinte às Manifestações Populares de Porto Alegre

 
As Manifestações que estão acontecendo no Brasil tem nos mostrado uma série de novos símbolos com os quais muitos de nós não estão acostumados, um deles é a máscara de “V for Vendeta”.
V for Vendeta é uma das mais celebradas graphic novels já escritas. Nela, Alan Moore criou um dos personagens mais emblemáticos das Histórias em Quadrinhos: “V”. Um anti-heroi sem identidade que cobre o rosto com uma máscara de Guy Fawkes (rebelde preso e condenado à morte após tentativa frustrada de explodir o Parlamento inglês, em 1605). A referência a Fawkes não é casual, pois o objetivo de “V” era o mesmo.
Na trama, a Inglaterra, imersa num passado alternativo, vive um regime totalitário onde todas as instituições públicas e os meios de comunicação estão nas mãos de um mesmo grupo, o Partido Fogo Nórdico. Numa sociedade onde as informações são manipuladas a população vive numa estado de passividade como se tudo andasse muito bem nas terras britânicas.
E é neste cenário que “V” surge como uma voz pronta a desmascarar o rígido sistema. Escrita entre  1982 e 1983 (lançado no Brasil em 1989), a HQ logo se tornou um cult que, em 2006, tornou-se um longa-metragem que alcançou igual sucesso de crítica e público.
Ontem à noite aconteceu uma das mais belas manifestações públicas que Porto Alegre conheceu. E muitas máscaras de “V” estavam lá. A marcha, que reuniu em torno de 40 mil pessoas, saiu da frente da prefeitura, marchando até o Gazômetro de onde retornou via avenida Borges de Medeiros para o centro da cidade, a manifestação transcorria pacificamente até nos vermos encurralados pela polícia que bloqueava o caminho de volta ao centro. Ficamos literalmente sem ter para onde ir.
O momento tenso só foi quebrado quando alguns manifestantes mais exaltados (e vaiados pela maioria) correram com paus e pedras em direção à polícia. Ai virou um caos. A polícia com escudos e armas de bala de borracha partiu para cima de todo mundo, indistintamente atacou jovens, pessoas com filhos e até idosos que se viam obrigados a correr das bombas (de efeito moral e gás) que eram jogadas contra todos. O cenário era de guerra.
Estávamos acuados. O sentimento que tomou conta de todos foi o de revolta contra a intolerância daquilo que parece ser a gestação de Estado autoritário e intolerante que age contra seus cidadãos como se esses fossem criminosos.
Hoje pela manhã, lendo aos jornais, ouvindo ao rádio, assistindo à TV e, pior de tudo, lendo algumas das postagens do facebook fiquei triste. Pois continuam nos criminalizando. Para alguns toda e qualquer manifestação é demonizada. Mas o pior é que o discurso oficial, propagado pela mídia tem afetado as pessoas comuns, aquela pelas quais nós estamos lutando. Pois muitas dessas pessoas apenas estão reproduzindo o  discurso autoritário oficial.
E talvez esse seja nossa principal falha como cidadãos brasileiros: não desenvolvermos uma opinião crítica pessoal sobre os fatos, apenas compramos e reproduzimos uma versão que nos parece conveniente. Nós brasileiros parecemos ter preguiça de pensarmos sozinhos.
E isso me entristece profundamente. Espero que minha tristeza passe. Sei que vai passar. Mas a verdade é que no momento estou muito triste em ver nosso povo voltando para um estado de passividade, ao menos é o que esta me parecendo. Espero sinceramente estar enganado, mas é a leitura que tenho no momento.
Mas voltando ao filme...
No final da película, um dos líderes do Partido Fogo Nórdico (partido totalitário que controla a Inglaterra) descarrega sua arma em “V” e logo exclama “Por que você não morre?” A resposta do mascarado é emblemática “ideias nunca morrem”.
Espero que tudo que presenciamos nestes últimos dias em nosso país tenha servido para criar uma consciência coletiva de que o Brasil precisa mudar. Não uma mudança paliativa, mas uma mudança séria nas estruturas do poder. E que todos nós possamos entender que os que lutam por uma Brasil melhor são cidadãos e não criminosos, como muitos querem que pensemos.
 
Marcos Faber

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Copa das Confederações ou Copa das Manifestações?


Não tenho lembrança de uma manifestação maior do que as que estão ocorrendo nestes dias. São Paulo, Porto Alegre, Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outras tantas cidades brasileiras estão em polvorosa. O povo está nas ruas. Com isso, os veículos de comunicação de massa convocam seus “especialistas“ para desvendarem o que está acontecendo.
Em Porto Alegre, as manifestações iniciaram em março, a população porto-alegrense saiu às ruas contra o aumento abusivo do preço das passagens de ônibus. Nos primeiro dias alguns destes “especialistas” acusam os manifestantes de “baderneiros” outros afirmaram que se tratava de “vândalos” ou “um bando de desocupados, vagabundos”. Contudo, conforme os dias se passam as opiniões ficam mais contraditórias, até ao ponto de alguns “especialistas” exaltarem a organização dos encontros. No fim, uma medida judicial impediu o aumento. Vitória dos manifestantes.
Há 224 anos, em julho de 1789, foram os franceses que saíram às ruas em protesto. Estavam cansados do regime absolutista e das luxurias palacianas da corte de Luís XVI. Os manifestantes não tinham uma demanda, tinham várias. Para começar enquanto havia falta de pão o rei e sua rainha, Maria Antonieta, patrocinavam banquetes que consumiam em uma noite o equivalente a alimentar toda a população parisiense de pão e vinho por um mês inteiro.
Mas não era só isso. A sociedade francesa estava dividida em 3 Estados. O Primeiro era formado pelo clero (membros da Igreja Católica), estes eram sustentados pelos dízimos, que nesta época eram obrigatórios. Já a nobreza representava o Segundo Estado eram os únicos com direitos a posse da terra e viviam da cobrança dos impostos.
Na base da sociedade estava o Terceiro Estado formado pela burguesia e pelo povo. Estes não tinham direitos, apenas deveres. Representavam 98% da população francesa e sustentavam a França e os luxos das elites. Foi por isso que a Revolução Francesa aconteceu. Devido a isso, pouco mais de 2 anos depois, o rei seria guilhotinado em praça pública e a França nunca mais seria a mesma.
Quando saíram às ruas, os franceses não tinham certeza de até onde estariam dispostos a lutar. Mas o que se viu depois foi que tiveram coragem e disposição para irem até o fim.
Mas se o rei Luís XVI vivia em meio a um luxo que não havia trabalhado para usufruir, a população penava. E o que ocorre hoje é tão ruim quanto, pois a realização da Copa das Confederações de 2013 já se consumiu, somente calculando o custo total com os seis estádios, mais de 5 bilhões de reais. Enquanto isso há falta de leitos nos hospitais, escolas não possuem estrutura de funcionamento, os transportes públicos são cada vez mais caros e deficitários, as ruas e rodovias estão ultrapassadas e a segurança pública... o que dizer sobre segurança no Brasil? Alguém se sente seguro nas ruas das grandes cidades brasileiras? Mas os "especialistas" falam em legado da Copa...
Mas, voltando às manifestações que estão acontecendo hoje no Brasil. Não é possível dizer até onde elas irão. O certo é que irão até onde nós tivermos coragem e disposição de ir. Contudo, nossas armas devem ser pacíficas, não devem ser armas que agridam ou firam ao corpo, mas à alma de nossa nação.
Infelizmente não acredito que estamos dispostos a ir tão longe quanto foram os franceses. Contudo, enquanto escrevo esse texto, assisto pela GloboNews que existem manifestantes invadindo as dependências do Congresso Nacional...
Às armas cidadãos!
Marcos Faber