domingo, 15 de março de 2015

House of Cards e as Manifestações de 2015


House of Cards é uma série norte-americana do canal Netflix protagonizada pelo aclamado ator Kevin Spacey. House of Cards, que já está na terceira temporada, é a primeira série feita exclusivamente para a internet que alcança sucesso global. Para se ter uma ideia Barak Obama, Michel Temer (o atual vice-presidente brasileiro), Vladimir Putin e até o apresentador Silvio Santos já se pronunciaram publicamente como fãs do show.
A série narra a história fictícia da ascensão política do congressista Franck Underwood à presidência da República dos Estados Unidos. Mas até ai nenhuma grande inovação em matéria de cinema ou tv. O diferencial de House of Cards está na forma como a política norte-americana é revelada ao telespectador. Diferentemente do tradicional glamour hollywoodiano, a política norte-americana é desnudada de tal forma que fica difícil diferenciá-la daquilo que conhecemos no Brasil.
Ao longo da trama Frank Underwood (Kevin Spacey) se mostra um político maquiavélico que justifica todas as suas ações ardilosas e corruptas como uma forma aceitável de alcançar seus objetivos políticos. Assim, Underwood vai minando e derrubando um a um todos os que estão em seu caminho. Mesmo os que o auxiliam e apoiam são derrubados, caluniados ou até mortos para que ele alcance seus objetivos.
Toda a ira de Underwood iniciou após o presidente recém eleito não cumprir com sua promessa de empossar Underwood como o chefe de Estado. Indignado, o político maquinou um plano de vingança. Primeiro ardilosamente articulou uma campanha de difamação do novo chefe de Estado. Em seguida seu alvo foi o vice-presidente.
Ao mesmo tempo em que minava o governo recém eleito, Underwood foi formando acordos políticos para garantir sua nomeação à vice-presidência. Como o segundo homem mais importante da política americana, Underwood começou uma campanha de isolamento do presidente.
 Mas o clímax chegou com o final da segunda temporada quando Underwood assistiu o presidente eleito ceder a pressão e renunciar.  Mesmo não tendo recebido um voto sequer o Underwood tornou-se o presidente da nação mais poderosa do mundo. Nas palavras do próprio político “estou a um batimento cardíaco de distância da Presidência e não recebi um único voto em meu nome. A democracia é tão superestimada.”
Mas, mudando um pouco de assunto. O pós manifestações de junho de 2013 me causaram tristeza. Principalmente o que vi após as eleições do ano passado. Pouco mais de um ano após as manifestações, a maior parte dos deputados federais e senadores acusados de corrupção foram reeleitos para os seus cargos. Vários underwoods foram eleitos ou reeleitos. Mas é importante lembrar que de forma legítima o povo brasileiro reelegeu muitos daqueles que eram a causa dos protestos de 2013.
Infelizmente, tenho que confessar que não esperava nada muito diferente disso. As razões para minha desesperança estão no fato de que não vejo demonstrações de que o povo brasileiro tenha aprendido com a sua própria história. De forma assustadora ainda repetimos os mesmos erros do passado.
Contudo, agora, em meados de março (2015), o povo volta às ruas. E os motivos para isso não faltam. O crescimento da corrupção, o escândalo da Petrobras, a volta da inflação, a falta de investimentos em educação, transportes, segurança e saúde continuam. Nada mudou. Continua tudo como se as manifestações de junho de 2013 nunca tivessem acontecido.
Em 2013 participei de várias das manifestações que ocorreram. Algumas das quais postei textos em meu blog. Acredito que como cidadãos temos o direito legítimo de demonstrarmos publicamente nossa insatisfação com a política nacional. Temos o direito de manifestarmos a nossa contrariedade com os rumos que a classe política tem adotado para o Brasil. Principalmente quando vivemos num país onde a corrupção está institucionalizada como a nossa.
Contudo devemos refletir sobre o que estamos reivindicando e quais são mudanças que desejamos para o Brasil. Afirmo isso pois tenho lido e ouvido muita coisa estranha sobre o que se deseja para o futuro do país. Tanto de pessoas bem intencionadas como de outras descompromissadas com a nação. Alguns, muito numerosos por sinal, estão defendendo o impeachment da presidente Dilma. Outros defendem uma intervenção militar e o fechamento do Congresso Nacional.
Isso tudo é muito assustador. Não somente pelo efeito que essas medidas causariam. Mas pela falta de entendimento histórico e político daquilo que estão desejando. Tais protestos demonstram o quanto não sabem absolutamente nada sobre a história do Brasil.
Parecem não perceber que desejam que a ilegalidade seja instituída. Parecem não ter consciência do que estão desejando. Não compreendem o quão fora de seu tempo seria um Golpe de Estado.
Desconhecem que a última vez em que o Congresso Nacional foi fechado significou a deposição do legítimo presidente João Goulart. A partir daí, liberdades foram tolhidas, a Constituição foi rasgada e a política ficou monopolizada nas mãos de uma direita Civil-Militar que exterminou com os direitos individuais. A censura, a repressão e a tortura se tornaram práticas normais. Mas não foi somente no Brasil que isso aconteceu. Praticamente toda a América Latina experimentou sua repressão militar. No Chile o presidente eleito, Salvador Allende foi assassinado pelos ditadores. Como consequência milhares de chilenos foram torturados e mortos. 
Mas não foi só na América que isso aconteceu. Será que alguém já leu sobre a ascensão dos nazistas na Alemanha? Ou sobre os camisas pretas na Itália?
Todas essas histórias aconteceram em momentos de crise. Todos esses eventos ocorreram após a manipulação das massas. Leia um pouco sobre história e verá que não estou mentindo ou exagerando.
Por isso clamo ao povo brasileiro: Por favor, leiam um pouco de história e entendam um pouco sobre aquilo que estão desejando. Não acreditem em tudo que está por ai. Reflita por vocês mesmos.
Caso contrário estaremos sujeitos a maquinações como as de Frank Underwood em House of Cards. A ilegalidade traz consequências que devem ser muito bem ponderadas. Também não podemos esquecer que os políticos que estão em Brasília assumiram seus cargos de forma legítima, e mesmo os que se reelegeram, estão em seus cargos a menos de cem dias.
Se não desejamos políticos como os que temos, devemos então ser diferentes deles e não parecidos. Por isso temos obrigação de sabermos o porquê deles estarem lá nos representando. Se desejamos mudanças devemos começar por nós mesmos. E se desejamos que a Lei seja cumprida, não podemos esquecê-la em nome de um Golpe.
Como cidadãos de direito que somos temos a obrigação de manifestarmos nossa contrariedade contra toda essa corrupção que está aí. Mas sem esquecer que se desejamos justiça, devemos compreender que a justiça se faz quando garantimos o cumprimento da lei e não quando a rasgamos.

Marcos Faber
www.historialivre.com