House of
Cards é uma série norte-americana do canal Netflix protagonizada pelo aclamado ator
Kevin Spacey. House of Cards, que já está na terceira temporada, é a primeira
série feita exclusivamente para a internet que alcança sucesso global. Para se
ter uma ideia Barak Obama, Michel Temer (o atual vice-presidente brasileiro), Vladimir
Putin e até o apresentador Silvio Santos já se pronunciaram publicamente como
fãs do show.
A série narra
a história fictícia da ascensão política do congressista Franck Underwood à presidência da República dos Estados Unidos. Mas
até ai nenhuma grande inovação em matéria de cinema ou tv. O diferencial de
House of Cards está na forma como a política norte-americana é revelada ao telespectador.
Diferentemente do tradicional glamour hollywoodiano,
a política norte-americana é desnudada de tal forma que fica difícil diferenciá-la
daquilo que conhecemos no Brasil.
Ao longo da
trama Frank Underwood (Kevin Spacey)
se mostra um político maquiavélico que justifica todas as suas ações ardilosas
e corruptas como uma forma aceitável de alcançar seus objetivos políticos.
Assim, Underwood vai minando e
derrubando um a um todos os que estão em seu caminho. Mesmo os que o auxiliam e
apoiam são derrubados, caluniados ou até mortos para que ele alcance seus
objetivos.
Toda a ira
de Underwood iniciou após o
presidente recém eleito não cumprir com sua promessa de empossar Underwood como o chefe de Estado.
Indignado, o político maquinou um plano de vingança. Primeiro ardilosamente
articulou uma campanha de difamação do novo chefe de Estado. Em seguida seu
alvo foi o vice-presidente.
Ao mesmo
tempo em que minava o governo recém eleito, Underwood
foi formando acordos políticos para garantir sua nomeação à vice-presidência. Como
o segundo homem mais importante da política americana, Underwood começou uma campanha de isolamento do presidente.
Mas o clímax chegou com o final da segunda
temporada quando Underwood assistiu o
presidente eleito ceder a pressão e renunciar. Mesmo não tendo recebido um voto sequer o Underwood tornou-se o presidente da
nação mais poderosa do mundo. Nas palavras do próprio político “estou a um
batimento cardíaco de distância da Presidência e não recebi um único voto em
meu nome. A democracia é tão superestimada.”
Mas,
mudando um pouco de assunto. O pós manifestações de junho de 2013 me causaram tristeza.
Principalmente o que vi após as eleições do ano passado. Pouco mais de um ano
após as manifestações, a maior parte dos deputados federais e senadores
acusados de corrupção foram reeleitos para os seus cargos. Vários underwoods foram eleitos ou reeleitos. Mas
é importante lembrar que de forma legítima o povo brasileiro reelegeu muitos
daqueles que eram a causa dos protestos de 2013.
Infelizmente,
tenho que confessar que não esperava nada muito diferente disso. As razões para
minha desesperança estão no fato de que não vejo demonstrações de que o povo
brasileiro tenha aprendido com a sua própria história. De forma assustadora ainda
repetimos os mesmos erros do passado.
Contudo, agora,
em meados de março (2015), o povo volta às ruas. E os motivos para isso não
faltam. O crescimento da corrupção, o escândalo da Petrobras, a volta da
inflação, a falta de investimentos em educação, transportes, segurança e saúde
continuam. Nada mudou. Continua tudo como se as manifestações de junho de 2013
nunca tivessem acontecido.
Em 2013 participei
de várias das manifestações que ocorreram. Algumas das quais postei textos em
meu blog. Acredito que como cidadãos temos o direito legítimo de demonstrarmos
publicamente nossa insatisfação com a política nacional. Temos o direito de
manifestarmos a nossa contrariedade com os rumos que a classe política tem
adotado para o Brasil. Principalmente quando vivemos num país onde a corrupção está
institucionalizada como a nossa.
Contudo
devemos refletir sobre o que estamos reivindicando e quais são mudanças que desejamos
para o Brasil. Afirmo isso pois tenho lido e ouvido muita coisa estranha sobre o
que se deseja para o futuro do país. Tanto de pessoas bem intencionadas como de
outras descompromissadas com a nação. Alguns, muito numerosos por sinal, estão
defendendo o impeachment da presidente Dilma. Outros defendem uma intervenção
militar e o fechamento do Congresso Nacional.
Isso tudo é
muito assustador. Não somente pelo efeito que essas medidas causariam. Mas pela
falta de entendimento histórico e político daquilo que estão desejando. Tais protestos
demonstram o quanto não sabem absolutamente nada sobre a história do Brasil.
Parecem não
perceber que desejam que a ilegalidade seja instituída. Parecem não ter
consciência do que estão desejando. Não compreendem o quão fora de seu tempo
seria um Golpe de Estado.
Desconhecem
que a última vez em que o Congresso Nacional foi fechado significou a deposição
do legítimo presidente João Goulart. A partir daí, liberdades foram tolhidas, a
Constituição foi rasgada e a política ficou monopolizada nas mãos de uma
direita Civil-Militar que exterminou com os direitos individuais. A censura, a
repressão e a tortura se tornaram práticas normais. Mas não foi somente no
Brasil que isso aconteceu. Praticamente toda a América Latina experimentou sua
repressão militar. No Chile o presidente eleito, Salvador Allende foi
assassinado pelos ditadores. Como consequência milhares de chilenos foram
torturados e mortos.
Mas não foi
só na América que isso aconteceu. Será que alguém já leu sobre a ascensão dos nazistas
na Alemanha? Ou sobre os camisas pretas na Itália?
Todas essas
histórias aconteceram em momentos de crise. Todos esses eventos ocorreram após
a manipulação das massas. Leia um pouco sobre história e verá que não estou
mentindo ou exagerando.
Por isso
clamo ao povo brasileiro: Por favor,
leiam um pouco de história e entendam um pouco sobre aquilo que estão
desejando. Não acreditem em tudo que está por ai. Reflita por vocês mesmos.
Caso
contrário estaremos sujeitos a maquinações como as de Frank Underwood em House of Cards. A ilegalidade traz consequências
que devem ser muito bem ponderadas. Também não podemos esquecer que os
políticos que estão em Brasília assumiram seus cargos de forma legítima, e
mesmo os que se reelegeram, estão em seus cargos a menos de cem dias.
Se não
desejamos políticos como os que temos, devemos então ser diferentes deles e não
parecidos. Por isso temos obrigação de sabermos o porquê deles estarem lá nos
representando. Se desejamos mudanças devemos começar por nós mesmos. E se
desejamos que a Lei seja cumprida, não podemos esquecê-la em nome de um Golpe.
Como
cidadãos de direito que somos temos a obrigação de manifestarmos nossa
contrariedade contra toda essa corrupção que está aí. Mas sem esquecer que se desejamos justiça, devemos compreender que a
justiça se faz quando garantimos o cumprimento da lei e não quando a rasgamos.
Marcos Faber
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